30 de maio de 2010

Ah, que saudade;

Inspirado no perfil dessa pessoa

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Eu quando paro pra pensar, eu penso, mas penso MESMO, chega até a doer tudo aqui dentro, porque com os pensamentos vem a lembrança, vem toda a dor que eu já senti. Mas então eu cavo, cavo cada vez mais fundo e encontro meus 3,4 anos de idade. Quando eu corria dentro de casa, colocava meus patins que me eram maiores que meus pés e me escorava no pouco espaço de casa; me divertia na caixa de areia com meus amigos que corriam na borda do mesmo e arriscava as vezes segui-los. Eu sempre fui medrosa, nunca tive medo de escuro, mas sempre tive medo de barata, sempre tive medo de cair e me machucar; sempre fui nojenta, nunca me mantive suja, não suporto coisa nojenta, comida melequenta e que fede. Quando eu tinha 4 anos meu avô recebia um beneficio que lhe dava uma cesta básica cheia de besteiras, e eu, juntos com meus 5 primos que moravam aqui no quintal de casa, corríamos e "afanávamos" as coisas gostosas, eu sei que era maldade deixar para o meu avô apenas os doces que não gostávamos, mas ele não ligava, ou se ligava, fazia de conta que não. Nas horas que me vejo sem chão eu tento me lembrar do quão feliz eu conseguia ser, com pouco. Tento lembrar que minha maior dor era quando caia e machucava, esfolava o joelho todo. Eu sempre fui de cair, caia tanto que cheguei num ponto em que não chorava mais, não doía. Levantava e continuava andando. É, eu cresci e os tombos não pararam, e cada vez doía mais, só que, eu não estava acostumada com os mesmos, e chorava. Doía no peito, no coração, não mais no ralado. A dor da recusa, a dor do desprezo e a dor do crescer, me fazem ver que agora que me encontro no alto dos meus dezoito anos, me tornei uma pessoa sensata, fria e calculista. Não me movo por um motivo que não seja forte, não ajo se não por minha vontade. Não sinto nada, nem dor, nem amor, nem nada. Eu queria mesmo voltar no tempo e sentir frio voltando do colégio, pra voltar dentro da blusa de lã quentinha do meu pai, ouvindo teu coração batendo forte, ou segurando na mão da minha mãe e andando de olhos fechados para não entrar areia neles. Eu sinto falta de quando a única duvida que pairava na minha cabeça era a de qual brinquedo usar no dia; Sinto falta de quando gritava o nome das minhas primas e elas passavam o dia esparramando meus brinquedos e no fim do dia quem tinha que os guardar era eu; Elas cresceram, viraram mães. E eu vejo que eu nunca tive, realmente, muitos amigos. Minha família sempre foi meu refugio. Eu sei que daqui à uns anos, eu vou crescer mais, não mais morar com meus pais, vou sentir falta disso e sei que vou chorar quando bater a saudade. Eu sei que vou chorar antes disso, eu já sinto saudade deles, mesmo estando sobre o mesmo teto. Eu sinto falta de quando éramos unidos e não nos afastávamos por tecnologias. Brincávamos, jogávamos e riamos, nos divertíamos. Ainda os amo, e isso nunca vai mudar, mas eu sinto falta de ser quem eu era. A faladeira, a que contava tudo. Eu cresci e junto comigo cresceu esse medo por contar minha vida. Me fechei como uma pérola, me tranquei em mim, e vejo que isso não me faz de todo, bem. Mas é irreversível. Eu queria poder fechar meus olhos e sentir todo aquele cheiro de infância. Sinto saudades da Nayara que eu era quando tinha 10 anos, que apostava corrida na escola e não ligava para os garotos rirem do jeito de andar. Sinto tanta saudade disso. Agora nem tenho uma escola. Tenho um emprego em que umas pessoas estão tentando ajudar e outras só querem te foder. Terei uma faculdade e sei que muita coisa vai mudar minha vida. Não, não estou com medo do que vou me tornar amanhã, já estou com medo do que me tornei agora, a vazia, distante e fria; Tenho medo de mim mesma, e de tudo que guardo em mim. Tenho medo de me tornar uma ranzinza. Ah que saudade de 1996, que saudade de correr. Que saudade do ar fresco, do deitar no quintal e olhar as nuvens, do dormir a tarde, do vento no rosto, dos banhos de chuva. Ah, que saudades dos abraços apertados que eu ganhava, dos colos confortantes e das coisas banais que me faziam feliz. E hoje eu vejo, eu era feliz, e não sabia.

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